sábado, 7 de maio de 2011

APRESENTAÇÃO DE PERFORMANCES, CENAS E INTERVENÇÕES DO PROJETO AUSÊNCIAS NO TUSP

12/05/2011 às 21hs no TUSP - Rua Maria Antônia, 294


O Grupo 59, recém formado de uma turma de alunos da EAD, quando foi convidado para realizar uma residência artística de mostra de repertório no TUSP, decidiu convidar outros grupos para apresentarem trabalhos, numa mostra paralela de teatro de grupos que se formaram a partir de algum encontro em uma escola/universidade de teatro. Por isso, o Grupo do Trecho foi convidado a participar do evento... Decidimos que o que seria mais interessante para ocupar um edifício teatral (espaço nunca ocupado pelo grupo, que se dedica à intervenção artística em lugares do cotidiano da esfera urbana) seria realizar uma mostra com uma série de performances, cenas, intervenções criadas ao longo do ano de 2010, quando o grupo desenvolveu o Projeto Ausências, um trabalho de especificidade contextual na Penitenciária Feminina do Butantã, como maneira de expor a via mais recente de trabalho do grupo, que ainda gera pequenos estalos de continuidade e inquietação... Estão todos convidados.





domingo, 24 de abril de 2011

a lua renasce...

Contos de Lua no Chão no FESTA - Festival Santista de Teatro

Depois do silêncio e do choque do trabalho na penitenciária feminina em 2010, o grupo decide em 2011 frear um pouco o fluxo ininterrupto de produção, produção, produção de trabalhos novos para dar devida atenção àquilo já criado. Trazer de novo a tona antigos trabalhos e buscas... aprofundar e dar continuidade às pesquisas já iniciadas (pois é fato que nunca estiveram e nunca estarão conclusas).
Nesse fluxo optou-se por dar vida novamente ao espetáculo desenvolvido no ano de 2009, Contos de Lua no Chão. Este trabalho que nasceu de uma intensidade tão grande de inquietações na relação com a realidade urbana, por certo ainda teria, ainda tem, muito que nos instigar.
O primeiro ambiente que se interessou pela vinda do trabalho, foi o FESTA. Como qualquer retomada de algo que havia sido deixado pra trás, mentiríamos em dizer que não passamos por mil percalços, dores de cabeça, quiprocós, para poder realizar as duas apresentações do trabalho no festival... Mas isso não retira a potência que sentimos ao ver as questões do espetáculo serem de novo levantadas por entre a arquitetura de uma grande cidade...
Fomos incrivelmente bem recebidos e bem cuidados pela equipe do festival, estamos imensamente agradecidos... Esse encontro nos dá um novo ânimo para seguir nessa empreitada de renascimento... Um novo sopro de sentido diante desse trabalho, diante dessas luas que erguemos. Realmente... obrigado.
A primeira apresentação... as surpresas, as desordens de um recomeço... coisas essenciais que são esquecidas, resoluções malucas conquistadas na hora. A generosidade do homem que cede-nos a bateria de um carro... As crianças, dominando energicamente a possibilidade de mesclar ficção ao real.
A segunda apresentação... tudo relativamente mais tranquilo. As pessoas do festival como público. O espetáculo apresentado como uma oferta em retorna da generosidade com a qual fomos recepcionados... A força dos olhares a nos acompanhar pela tragetória. A prisão, as árvores, a fonte, a arena...
Foi um bonito e importante recomeço esse do festival... essa FESTA.
.
.
.
Esperamos que ainda possamos sentir as reverberações desse festival por um tempo. E que realmente as pessoas nos escrevam sobre suas impressões, sobre suas inquietações, sobre suas críticas acerca do trabalho... sintam nossas portas abertas, por favor, elas estão. Apresentar é apenas o começo...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Revista No TRECHO 3


Sai a nova No Trecho... bastante diferente das anteriores, acompanhando o movimento de transformação que o grupo sofreu a partir do projeto ausências... para adquirir a revista, gratuita, comente essa postagem nos deixando seu endereço de email.

Projeto Ausências em Autoescrituras

Um afluente do projeto ausências nasceu da vontade de possibilitar que pudéssemos tornar a penitenciária visível não só pelos nossos olhos, mas pelos olhos das próprias detentas. Primeiro a partir de fichas, depois a partir de cartas, o projeto ausências em autoescrituras pretende fazer escorrer para fora dos muros palavras, relatos... Foi criado um outro blog só para esse transito escrito, para os escritos daquelas mulheres:

Site do Grupo do Trecho

Criada mais uma possível esfera de diálogo e comunicação... fruto de um desejo antigo... o grupo cria um site para facilitar a aproximação com nossos trabalhos e debates...

Casa de Bernarda Alba, Km. 19,5

Esse trabalho foi desenvolvido com as alunas da penitenciária, que batalharam conosco para um horário de criação teatral. O resultado foi apresentado em um dia na capela da Penitenciária e provavelmente terá continuidade e aprofundamento ao longo desse ano... Pode ser assistido na íntegra:

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre Na Prisão...

Na Prisão de Kazuichi Hanawa

Por Carolina Nóbrega

Já totalmente inundada e atenta a tudo que pudesse iluminar minimamente acerca do isolamento penal, deparo-me por acaso com um livro de título sugestivo, por acaso (ou para mim) em destaque na prateleira de uma livraria. Abro. Surpresa. Trata-se de um mangá. Na hora o carrego comigo para casa. A contra capa já me desarma. Trata-se de um relato autobiográfico em desenho.

Kazuizhi Hanawa foi preso em 1994 por porte ilegal de armas, quando foi surpreendido atirando sem propósito no alto de montanhas. Foi condenado a 3 anos de prisão.

Certamente, o encontro com esse mangá desconstruiu muito do que eu já houvesse imaginado e concebido acerca de uma penitenciária. Seus relatos são absolutamente realistas e cotidianos, desenha detalhadamente os espaços da cadeia, com uma precisão quase fria. É um livro cru, amoral, que se distancia da idéia de denúncia política, bem como de qualquer sentimento de injustiça pessoal. Ele fala da banalidade, da passagem tediosa, repetitiva do tempo. Agora, depois de alguns bons meses frequentando de fato um presídio me é nítido na pele o quanto habita, dentro dos corpos, sensações e emoções das pessoas submetidas a um regime carcerário, essa banalidade, esse tédio, essa inércia emocional.

Sim, isso também é visível na realidade liberta, ou, mais propriamente, na realidade fora da cadeia. Estamos sujeitos ao mecanicismo diante de qualquer sistema (até e talvez principalmente ao que nós mesmos nos impomos), mas, alerto, não é a mesma coisa. No presídio há algo que vai se incrustando nas pessoas, como quase uma impossibilidade de alimentar qualquer tipo de fogo ou anseio político. Ele aparece, por certo, mas rapidamente se desarma ou não consegue muito avançar além das necessidades puramente cotidianas. Há mesmo um imobilismo doloroso, uma falta de energia latente. Um espaço que suga o espírito. Isso acontece com os presos e MUITO também com os funcionários (neles, nos funcionários, talvez até apareça com mais nitidez, intensidade, ou loucura, para mais sobre o assunto, vide Kafka...).

A idéia da prisão de dentro e da prisão de fora também aparece sutilmente no mangá... Aparece de repente, quando o leitor se atenta a algum comentário do protagonista, como o de que era muito libertador não precisar mais pensar em pagar os impostos...

Na prisão me impactou ainda pela forma como ele alterna um realismo extremo (principalmente em relação ao desenho dos espaços) com um exagero próprio ao mangá (como no momento em que contam do homem que foi pra solitária por jogar palavras cruzadas de forma extremamente banal, mas o desenho do homem na solitária é quase expressionista), ou até por alguns desenhos mais fantásticos, insanos (como no momento em que o autor conta que foi transportado algemado por uma corda via transporte público até o presídio... nesse momento, ele se retrata como um cachorro...).

A idéia de que o homem se torna institucionalizado é muito bem retratada... principalmente em três capítulos. Num deles, ele fala sobre como o presidiário sente a passagem do tempo, através de um homem que sente o dia passar pelas refeições, e que, ao final de tudo pensa algo como, “O tempo passa depressa aqui. Só faltam seis anos”. Noutro, mostra o pânico de um homem que está para ser liberto e não sabe se dará conta das pressões do mundo exterior. E em outro em que o protagonista – diante do fato que lá dentro, em sua jornada de trabalho, tem que pedir “por favor” para tudo –, se imagina liberto, gritando “por favooor” ao garçom num restaurante.

Chegando ao final do livro, que para nós, ocidentais, seria o seu começo (para quem não sabe, um mangá se lê de trás para frente), percebo que a introdução estava lá... no fim. Eu ainda não a havia lido. Essa introdução, escrita por Tomohide Kure um crítico de mangá, que conhece pessoalmente o autor, Kazuichi Hanawa, foi o meu último e talvez mais intenso choque, diante do qual entrei numa reflexão profunda e repensei o meu trabalho dentro da penitenciária. Nessa introdução, em dado momento, ele diz que já teve uma série de amigos presos, que ele aos poucos descobriu aos poucos a melhor forma de escrever cartas para eles – que, inclusive, todos seus amigos quando libertos diziam a ele serem as melhores cartas que recebiam. Suas cartas se atentavam a descrever as coisas mais cotidianas e banais – lembrei-me nesse ponto, de um momento do HQ em que o protagonista e seus colegas de cela, mudam rapidamente de canal quando começa o jornal, para ver um programa tosco. Afinal, o que eles poderiam fazer diante de qualquer informação acerca do mundo exterior?

Tomohide Kure em sua introdução, conclui esse momento dizendo que o único jeito de sobreviver ao sistema carcerário sem enlouquecer é banalizando-o, é compreender a vida da maneira mais direta e simplória... comer, trabalhar, dormir... sem isso viver ali se tornaria totalmente insuportável.

Não sei até que ponto consigo simplesmente acatar esse fato. Mas certamente em muitos momentos, isso é totalmente perceptível e palpável dentro da cadeia...

Enfim... Decido por não concluir nada a ver se divido contigo, que leu esse texto, minha crise inconclusa.